1° Geração - A natureza 


A natureza no romantismo que antes era apenas um pano de fundo, passou a exercer profundo fascínio no eu lírico. Há uma valorização da natureza, que interage com o eu lírico de forma romântica, funcionando como um reflexo do seu estado de espírito e de seus sentimentos. O romancista via-se como parte da natureza, integrando-a. O romantismo como um todo é uma valorização do eu como parte da natureza, pois aceita e deixa de modo muito evidente as emoções mais primitivas do ser humano, então há uma mescla com a natureza das emoções com natureza externa.


Ele começa a refletir suas emoções no modo como a natureza é retratada nas obras. Se o autor está triste, ele mostra a natureza mórbida e a ressalta como uma forma de expressão, ele a valoriza, entendendo-a como parte de si mesmo. 

O indivíduo sente uma necessidade de voltar-se para a natureza, pois percebe que a sociedade não pode compreende-lo, ele se sente em desajuste. Então surge uma valorização da natureza, principalmente da natureza pátria.

Vejam esse poema extraído da obra de Almeida Garrett, Flores sem Fruto:


O INVERNO
(De Alceu)

Júpiter chove, pelo céu se enturva
Fremente o ar:
Túrgidas crescem as torrentes grossas
Da água a jorrar.
Frígido Inverno! morra nas fogueiras
Do roxo lar.
Corra-nos vinho, franco, de mão larga,
Vamos, virar!
Beba-se, e já; porque a luz havemos
Ainda esperar?
Rápido é e dia, lentos são pesares,
Maus de acabar:
Deu-no-lo, e vinho, de Sêmele o filho
Para os matar.
Válidos copos, um a um, cá dentro
Se vão juntar:
E áspera luta travam na cabeça,
Que hão de quebrar.
Água?... mostrar-lha: duas vezes vinho
A tresdobrar!


1823.

Nessa obra é possível observar como o autor faz uso dos elementos da natureza, ele transmite um sentimento de pesar, de tristeza, o frio que o inverno trás. Assim, a natureza reflete o estado de espírito do autor, e ele pode fazer o leitor entender suas emoções. A natureza não é mais apenas a natureza. A natureza é o próprio autor. O inverno ali é sua própria emoção, e eles se unem e expressam o mais puro sentimento.

Aqui, outro poema extraído de Flores sem Fruto, onde o autor traz um ar delicado ao poema:

FLOR SINGELA
No álbum
De S. A. A. S. S. I. D. A. J. M.

Linda flor que nos jardins
Força de arte cultivou,
Tem dobrada a folha, o cheiro,
Mas de fruto se privou.
Passa abelha diligente,
E admirou tanto primor:
Mas para os favos o néctar,
Vai buscá-lo a outra flor.
Singelinha de três folhas
Coa mosqueta deparou,
E em seu cálix meio aberto
Oh que tesouro encontrou!
Como a abelha diligente
Que busca a singela flor,
Um singelo coração
Também só procura amor


Paris, 1833.





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